A Reforma da Previdência esteve entre um dos temas que dominou os protestos e debates no Dia Internacional da Mulher em Pernambuco. E não por menos. No estado, segundo dados do INSS, 248,8 mil trabalhadoras rurais recebem R$ 937 ao mês referentes à aposentadoria especial - um salário mínimo. Elas representam mais da metade do universo que exerceu atividades no campo (63,45%) e que hoje sustentam as famílias, movimentando também a economia dos municípios do interior. São R$ 2,7 bilhões ao ano e a discussão destas mudanças, para essa categoria feminina, em específico, tem sido penosa. A reforma pode prejudicar a atual geração e a próxima, na avaliação das agricultoras.
Com o dinheiro que entra na conta de todas as agricultoras, R$ 233,1 milhões ao mês, elas também contribuem com o comércio. Segundo Elisa Lucena, representante da Marcha Mundial da Mulher, a aposentadoria especial permite uma mínima dignidade da mulher na velhice. No campo, de acordo com Elisa, pessoas do sexo feminino começam a trabalhar com cerca de 14 anos, sem carteira assinada. E os companheiros ajudam pouco em casa. "Quando elas chegam aos 49 anos, acordando quase todo dia de 3 horas da manhã, elas já trabalharam nove anos a mais do que os homens", declarou.
Elisa Lucena foi uma das 600 mulheres que integrou, ontem, o protesto que se concentrou em frente à sede do INSS no Recife, na Avenida Mário Melo, Centro do Recife. O grupo se reuniu, inicialmente, no Monumento Tortura Nunca Mais, para simbolizar o retrocesso nos direitos humanos que pode ser causado pela reforma. As mulheres estão mobilizadas desde o dia 6 com o lema "Todas despertas contra o agronegócio e o capital - nenhum direito a menos". Elisa explicou que, de acordo com um levantamento realizado pela Sempre Viva Organização Feminista, a pobreza rural vai aumentar de 6% para 36% caso a reforma proposta passe nos termos apresentados.
As mudanças propõem que as mulheres da agricultura se aposentem com 65 anos, a mesma idade das que vivem nos centros urbanos e com mais qualidade de vida. Segundo ela, o governo Temer quer propor uma igualdade para pessoas que vivem realidades diferentes, sem transição, sem considerar as diferenças entre homens e mulheres. No campo, de acordo com ela, as mulheres acumulam os trabalhos domésticos, a criação dos filhos e a agricultura. "O que está se desenhando é uma velhice de humilhação para as mulheres, que não vão conseguir se aposentar. Vamos lutar contra isso".
Presença - Em Pernambuco, o movimento das trabalhadoras rurais tem apoio de várias entidades, como o Movimento Sem Terra, a Comissão Pastoral da Terra, a Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado de Pernambuco (Fetape), além de jovens e mulheres feministas. No dia 8 de março, os grupos organizaram debates e ocupações em vários municípios, a exemplo do Recife, Petrolina, Caruaru, Surubim, Bom Conselho, Caetés, Saloá e Itaíba. A manifestação do Dia Internacional das Mulheres acompanhou outros atos semelhantes que aconteceram no Brasil e mobilizou, visivelmente, mais gente do que no ano passado.