No último domingo (14), tivemos uma triste notícia para dar: o ator americano William Hurt faleceu aos 71 anos de idade, em decorrência de um câncer de próstata. Conhecido pelo público nerd como o General Ross dos filmes do Universo Cinematográfico da Marvel, ele já tinha uma extensa carreira que começou em 1977. E um de seus papéis mais emblemáticos é em O Beijo da Mulher Aranha, co-produção entre Brasil e Estados Unidos que está sendo relembrada pelos fãs do astro.
O filme foi dirigido por Héctor Babenco, cineasta argentino radicado no Brasil, e é uma adaptação do romance de mesmo nome escrito por Manuel Puig, que se passa pouco antes da ditadura de 1976 na Argentina. A adaptação, que chegou aos cinemas em 1985, passou a história para o Brasil em meio à ditadura militar e acabou sendo muito premiada, além de ter dado início à carreira internacional de Sônia Braga e ter rendido vários prêmios para Hurt.
Aqui, falaremos um pouco mais sobre a história do filme, sua importância e o grande papel que alavancou a carreira de Hurt, a ponto de tê-lo feito ganhar o Oscar de Melhor Ator: Sônia Braga interpreta a tal “Mulher Aranha” do filme.
O Beijo da Mulher Aranha, o filme, se passa em uma cela de prisão brasileira durante a ditadura militar. Lá, nós acompanhamos dois presos que se aproximam e se tornam amigos improváveis: Valentin Arregui, militante que possuía conexões com grupos guerrilheiros; e Luis Molina, homossexual afeminado acusado de estuprar um garoto menor de idade.
Os dois começam a conversar sobre vida, sobre filmes e sobre esperanças, enquanto os militares brasileiros propõem um acordo com Molina para extrair informações de Valentin, em troca de liberdade condicional. Apesar de aceitar a princípio, Molina acaba se apaixonando pelo seu companheiro de cela. Eventualmente, ele é libertado e forçado a revelar os segredos de Valentin, mas se recusa e é exterminado pelas forças militares.
A ideia para o filme surgiu quando Héctor Babenco estava em Los Angeles e conversou com alguns produtores. O cineasta tinha o sonho de adaptar o livro homônimo de Puig, mesmo tendo sido exilado da Argentina. Inicialmente, ele considerou astros como Burt Lancaster para o papel de Luis e até mesmo Richard Gére para Valentin, mas acabou fixando seu elenco em Raúl Julia (o Gomez da Família Addams) e William Hurt.
O longa foi financiado pela Embrafilme, antigo órgão governamental brasileiro dedicado à produção e distribuição cinematográfica. Filmado inteiramente em São Paulo, ele custou apenas $ 1,5 milhão para ser produzido – mas gerou em receita mais de $ 17 milhões. É lembrado como um dos maiores tesouros do cinema nacional, tendo conquistado reconhecimento mundial.
Raúl Julia (esq.) e William Hurt (dir.) interpretam, respectivamente, Valentin e Luis em O Beijo da Mulher Aranha.
O filme estreou no Festival de Cannes, em maio de 1985, e foi imediatamente aclamado. Enquanto Babenco foi indicado à Palma de Ouro, não se falava de outro nome que não William Hurt, que chegou a ganhar o prêmio de Melhor Ator do festival. Meses depois, o filme despontaria no Oscar, onde ganhou indicações nas categorias de Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado e até Melhor Filme – enquanto Hurt levou o prêmio de Melhor Ator.
No filme, ele é quem faz o papel de Luis Molina, o personagem homossexual de O Beijo da Mulher Aranha. O astro havia sido contratado em meio a polêmicas, já que Burt Lancaster – que havia sido a primeira escolha de Héctor Babenco para o papel – tinha recentemente atraído tabloides de fofocas por suspeitas em relação à sua sexualidade. Isso, junto aos problemas de saúde de Lancaster, provocou atrasos nas filmagens.
Como a produção precisava continuar, Babenco chamou Hurt de última hora – astro relativamente jovem, que estava no mercado cinematográfico há menos de dez anos e já era querido pelos seus colegas de trabalho. O resultado final foi incrível: William Hurt dá vida, personalidade, alegria e tristeza para Luis Molina, criando um personagem que é muito complexo e cheio de dimensões.
É realmente uma pena que o ator tenha falecido tão cedo, com tanto potencial e tantas obras inacabadas, mas nos consolamos com toda a sua trajetória e com a arte que deixou no mundo, ao mesmo tempo em que desejamos nossos sentimentos à família e aos amigos. E se você ainda não viu O Beijo da Mulher Aranha, é uma ótima hora para honrar o legado de William Hurt.
O Beijo da Mulher Aranha pode ser visto no GloboPlay.
fonte: LH