O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse nesta quinta-feira (9) que a reforma da Previdência é necessária para o equilíbrio das contas públicas brasileiras.
"A reforma da Previdência não é um objeto de decisão, é uma necessidade em função das contas públicas brasileiras", afirmou o ministro em evento sobre o tema, promovido pelo jornal "O Estado de S. Paulo", em São Paulo.
As despesas primárias eram de 10,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 1991 e passaram para cerca de 19% do PIB hoje, segundo o ministro. "A trajetória de déficit é crescente em todos os mandatos. Isso mostra a insustentabilidade das contas públicas brasileiras", completou.
Segundo Meirelles, o grande foco das despesas públicas no Brasil nos últimos 25 anos tem sido na Previdência Social. Ele disse que a reforma reduz as distorções econômicas. "A reforma proposta evita que os gastos com a Previdência aumentem. Ela visa manter benefícios constantes como proporção do PIB."
O ministro afirmou que o modelo atual incentiva aposentadorias precoces e que o Brasil se aproxima dos números da Bélgica, que já é um país rico. "Em resumo, a aposentadoria do Brasil ocorre cedo, mesmo com valores mais elevados."
Segundo Meirelles, o Brasil é um país ainda jovem, mas com despesas previdenciárias altas. "Quanto maior a população acima de 65 anos sobre a população abaixo dos 65, há maior tendência de gasto com a Previdência Social. Essa razão de dependência no Brasil ainda é baixa, mas já temos gastos de países que já estão nesta situação. Isso mostra que temos um ponto fora da curva, claramente".
Caso nada seja feito, o ministro disse que os benefícios primários da Previdência daqui a 10 anos seriam 17,2%, com uma previsão de crescimento do PIB de 9% neste período.
"Se nada for feito, não caberá nem no teto dos gastos, aprovado ano passado. Todas as demais despesas teriam que ser reduzidas a 33%. Por isso, para se cumprir o teto, é preciso controlar os gastos com a Previdência", afirmou.
O ministro também falou sobre a proposta de igualar a idade mínima para aposentadoria - 65 anos para homens e mulheres e servidores públicos e privados.
"Num primeiro momento se mantém a situação em que as mulheres entram na transição com idade 5 anos abaixo dos homens. Assim, apenas mulheres abaixo dos 45 anos atualmente entram no novo regime de 65 anos. Isso se assemelha a muitos modelos de outros países que igualam a idade mínima por gênero", afirmou o ministro.
Segundo ele, as mulheres mais jovens estão com a remuneração igual a dos homens e a tendência é que o mercado esteja igualitário em 20 anos. "Existe sim a possibilidade de manter as mulheres com 60 anos, mas, para as contas fecharem, os homens teriam que partir para a aposentadoria a partir dos 71. Mas há um problema demográfico aí."
O presidente Michel Temer enviou ao Congresso, no ano passado, uma proposta de reforma da Previdência que pretende fazer com que o brasileiro se aposente mais tarde. Os valores dos benefícios também podem cair. Um dos motivos é que a aposentadoria integral (100% do valor do benefício) só seria concedida a quem tivesse 49 anos de contribuição ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Quem se aposentar com um tempo menor receberia um valor proporcional, limitado a 76% do benefício, com pelo menos 25 anos de contribuição.
Para conseguir receber o benefício integral com a idade mínima proposta pelo governo, o trabalhador precisaria contribuir desde os 16 anos de idade, sem interrupção.
As novas regras ainda serão submetidas à avaliação do Congresso Nacional. Atualmente, elas são analisadas por uma comissão especial da Câmara. Desde que foi apresentada, contudo, a reforma enfrenta resistência tanto da oposição quanto de parte dos parlamentares que apoiam o governo Temer.
Nesta semana, o ministro da Fazenda passou dias se reunindo com diferentes partidos para tirar dúvidas dos parlamentares.