Do Alto da Sé ao Marco Zero, a paisagem que evoca o turismo no Carnaval que passou é a mesma que atiça o sentimento de identificação dos pernambucanos de Olinda e do Recife com as duas cidades. A celebração conjunta do aniversário, com marcos distintos da passagem do tempo em quase cinco séculos, recorda a história compartilhada dos municípios no desenvolvimento não apenas do estado, como da região e do país. A festa dupla é tradicional, reunindo passagens dessa trajetória, elevando a pernambucanidade – mas também abrindo a oportunidade para reflexões sobre o crescimento urbano e metropolitano, sobretudo desde o século passado.
Nessa perspectiva, cabe ressaltar a importância da cultura e suas manifestações artísticas diversas, aproveitadas nos momentos de festa, como o desta quarta-feira. No Recife, o frevo convida à dança, a gastronomia é distribuída em fatias de bolo, a literatura e a fotografia se aliam para chamar os cidadãos à biblioteca, e a Orquestra Sinfônica municipal se apresenta gratuitamente no charmoso e cultuado Teatro de Santa Isabel. Em Olinda, o dia tem início voltado para a religiosidade, numa das igrejas que compõem o cenário do patrimônio da humanidade, a Catedral da Sé. Na sequência, blocos carnavalescos famosos reaparecem nas ruas poucos dias após o encerramento dos festejos de Momo, além de um cortejo cultural com palhaços e brincantes, e do lançamento de um filme documentário no Largo do Mosteiro de São Bento. Variados ritmos musicais estarão presentes em shows no Largo da Prefeitura.
A ênfase nos traços culturais no dia do aniversário duplo é sintomática do valor que fazeres e saberes artísticos possuem para a população das duas cidades. A percepção correta dos gestores públicos, ao colocarem a arte em evidência no 12 de março, poderia servir de guia para um melhor aproveitamento dos potenciais criativos, e da indústria criativa, de olindenses e recifenses. Pois por melhores que sejam as boas intenções dos governantes municipais, faltam incentivos para que o desenvolvimento econômico e social dos cidadãos espelhe mais a tradição cultural e as capacidades inovadoras que estão na vocação dos pernambucanos, em especial, presentes na formação de Olinda e do Recife.
A herança colonial se confunde com uma atualidade de desafios persistentes, sobretudo na questão social: é infame a quantidade de gente que não vive com dignidade, nos dois municípios. O que o futuro reserva às chamadas cidades-irmãs depende, em larga medida, da articulação do poder público em prol da coletividade que se espalha na Região Metropolitana em que Olinda e Recife se integram. Quanto maior for o compromisso com o bem público, melhor será a compreensão da necessidade da abordagem conjunta de problemas que não se separam por limites municipais. E assim como no aniversário, a junção de cidades para uma gestão eficiente deve prosperar em Pernambuco, na perspectiva de um horizonte tão belo quanto as visões descortinadas no Alto da Sé, ou no Marco Zero.