Em 2025, os municípios de Pernambuco, como os demais em nosso país, iniciam uma nova gestão de quatro anos. Os desafios são muitos, e estão bem colocados pela cientista política e articulista deste JC Priscila Lapa, em seu artigo “Desafios em 2025 para os municípios pernambucanos”, publicado em 30/12/2024. Aqui vou explorá-los em relação à área da Educação. E por que podemos fazer mais?
Pernambuco tem o privilégio de contar com dois grandes nomes do cenário da Educação brasileira. Refiro-me a Fred Amâncio – mantido por mérito na pasta pelo prefeito do Recife João Campos, e Alexandre Schneider, convidado, há seis meses, pela governadora Raquel Lyra; ambos são tecnicamente muito preparados para a função, além de serem pessoas afáveis.
Penso que os dois, em articulação com a União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação de Pernambuco (Undime-PE), poderiam liderar a construção de um regime de colaboração inovador para o estado, em consonância com o novo Plano Nacional de Educação (PNE 2025-2035) que deverá, por sua vez, inspirar os Planos Estadual e Municipais de Educação.
No cenário nacional, Pernambuco é reconhecido pelas escolas de Ensino Médio em tempo integral, que colocaram o estado entre os primeiros do ranking nacional no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Por outro lado, não tem o mesmo desempenho para os Anos Iniciais e Finais do Ensino Fundamental, ficando atrás de outros estados da região Nordeste, como Ceará, Piauí e, mais recentemente, Alagoas.
Nosso estado, como de resto o Brasil, tem como grande desafio reduzir as desigualdades de desempenho escolar entre redes de ensino, ou mesmo entre escolas de uma mesma rede. Isso será possível, como ponto de partida, a partir de um diagnóstico baseado em dados e evidências, como fez recentemente a rede municipal de São Paulo, mas só se efetivará com sucesso se for colocado em prática o sistema de colaboração entre estado e municípios pernambucanos, com metas claras a serem alcançadas.
Não vou aqui dizer o que precisa ser feito para que Pernambuco possa fazer mais na Educação. Mas, efetivar a alfabetização de nossas crianças na idade certa deve ser, sem dúvida, uma prioridade, por ser a pedra angular da Educação. Sem essa efetivação, o fracasso virá mais adiante. Outro desafio, que não posso deixar de citar, é melhorar a aprendizagem escolar, especialmente em Matemática, inclusive nas escolas de Ensino Médio em tempo integral. Para enfrentá-lo, as evidências mostram que o fator intraescolar mais importante é a qualidade do professor, seguido de perto pela liderança do gestor escolar.
Priscila Lapa, em seu artigo, chama a atenção para o cuidado com os municípios de pequeno porte, que dependem fortemente de repasses dos governos estadual e federal. Um dos caminhos para fortalecer a Educação Básica nesses municípios é mediante a implantação de Arranjos de Desenvolvimento da Educação – um modelo de colaboração horizontal, que vem dando certo em tantos outros estados brasileiros.
Apesar dos aspectos políticos relativos a 2026, que certamente ganharão força a partir de 2025, acredito que temos uma grande oportunidade para se sobrepor a essa situação e construir um plano de médio e longo prazo para a área da Educação com foco na melhoria da aprendizagem e na redução da desigualdade escolar, tendo como princípio a colaboração entre o estado e os municípios pernambucanos. Temos essa oportunidade, e não podemos desperdiçá-la.
Mozart Neves Ramos é titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira do Instituto de Estudos Avançados da USP de Ribeirão Preto e professor emérito da UFPE.