O primeiro debate entre Donald Trump e Kamala Harris, pela corrida presidencial dos EUA, foi marcado por embates e provocações, além de desmentidos por parte dos apresentadores da ABC, que conduziram um encontro com um republicano, como de costume, envolto em ataques, porém desta vez acoado diante dos rebatimentos às críticas, por parte de Kamala Harris. Diferentemente do que foi visto no debate com Biden, os democratas conseguiram fazer o republicano passar alguns 'sufocos' em questões cruciais, diante de posicionamentos firmes e mais propositivos da atual vice-presidente.
Sem a presença de público e sem perguntas diretas, os mediadores tiveram papel de destaque em desmentir afirmações falsas e conduzir a temática de questões que envolveram migração, economia americana, as guerras entre o Hamas e Israel, além do conflito entre a Rússia e Ucrânia. Em tom morno em relação a outros confrontos com a participação de Trump, os candidatos trocaram uma série de acusações mas, ainda assim, apresentando algumas ideias para a nação.
A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, acusou o rival republicano nas eleições presidenciais, Donald Trump, de buscar dividir os americanos ao inflamar tensões raciais. "Eu acho que é uma tragédia termos alguém que quer ser presidente e que, de forma consistente, ao longo de sua carreira, tentou usar a questão racial para dividir o povo americano", disse Kamala.
O candidato republicano demonizou os imigrantes durante o debate presidencial, repetindo alegações desmentidas de que haitianos no estado de Ohio estavam "comendo os gatos" dos moradores.
"Em Springfield, eles estão comendo os cachorros — as pessoas que entraram — estão comendo os gatos, estão comendo os animais de estimação das pessoas que vivem lá. E é isso que está acontecendo no nosso país", disse Trump, contradizendo o gerente da cidade de Springfield, que afirmou que tais acusações não tinham fundamento.
Em outra acusação, Kamala apontou que Trump mentiu repetidamente sobre seus esforços para acabar com as proteções federais ao aborto, afirmando que a política do ex-presidente republicano sobre os direitos reprodutivos era "insultante para as mulheres dos Estados Unidos".
"Vocês vão ouvir um monte de mentiras", disse a vice-presidente Kamala. "Donald Trump escolheu pessoalmente três membros da Suprema Corte dos Estados Unidos com a intenção de que eles derrubassem as proteções do caso Roe v. Wade, e foi exatamente isso que fizeram, conforme ele pretendia."
O republicano, por sua vez, acusou sua rival à Casa Branca de fazer pouco para manter o aliado dos Estados Unidos, Israel, intacto, afirmando que, sob uma presidência de Harris, Israel "desaparecerá".
"Ela odeia Israel. Se ela for presidente, acredito que Israel não existirá dentro de dois anos", disse Trump durante o debate presidencial. "Israel desaparecerá." A vice-presidente democrata respondeu dizendo que a acusação de Trump, de que ela odiava Israel, era "absolutamente falsa" e que ela sempre apoiou o país ao longo de sua vida e carreira.
Acuado, Trump tentou imprimir uma narrativa que o favorecesse. Apelando para o recente atendado sofrido, o ez-presidente disse que "provavelmente levou um tiro na cabeça" por causa das críticas dos adversários.
"Provavelmente levei um tiro na cabeça por causa das coisas que dizem sobre mim. Eles falam sobre democracia. Eu sou uma ameaça à democracia. Eles são a ameaça à democracia", disse Trump, referindo-se à tentativa de assassinato durante um comício na Pensilvânia em julho, no qual ele foi ferido na orelha.
O primeiro debate entre a democrata e o republicano, talvez o último, aconteceu na Filadélfia, berço da democracia americana e onde se acredita que a primeira bandeira dos Estados Unidos foi costurada. A cidade fica no estado da Pensilvânia, um dos sete estados-pêndulo, que votam em um partido ou outro dependendo dos candidatos. Isto concede a tais estados uma influência gigantesca nas eleições devido ao sistema de votação por sufrágio universal indireto.
Durante décadas, os debates permitiam que um candidato se distinguisse do seu rival, mas não afetavam consideravelmente a campanha. Mas o cenário mudou em junho, quando o péssimo desempenho do presidente Joe Biden precipitou sua desistência de disputar a reeleição, anunciada em 21 de julho, quando passou o bastão para sua vice-presidente.
Desde então, ela virou um fenômeno político. Kamala conquistou um grande apoio em questão de horas, bateu o recorde de arrecadação de fundos, saboreou uma nomeação triunfante na convenção democrata de Chicago e conseguiu empatar com Trump nas intenções de voto em várias pesquisas.
Mas muitos americanos (28%, segundo uma pesquisa New York Times/Siena College) não a conhecem, nem as suas propostas. O debate é a oportunidade que terá para convencê-los.
Seu rival, que foi alvo de uma tentativa de assassinato em julho, é muito conhecido e desperta paixão e ódio na mesma medida. Seus simpatizantes permanecem leais, apesar dos processos judiciais que enfrenta.