O período de campanha eleitoral pode nos ajudar em diversas linhas de reflexão sobre nossa sociedade, sobre políticas públicas, sobre avanços e desafios, mas, sobretudo, pode nos ajudar a pensar coletivamente sobre prioridades. Podemos apostar que, dada a largada para a disputa, a partir de agora vamos ouvir muitos discursos de que “educação é prioridade”; “sem educação de qualidade o município não se desenvolve”, etc. Outro tema bastante apresentado pelos candidatos é o do estímulo ao empreendedorismo como prioridade na geração de renda.
Quando juntamos essas duas vertentes - educação e empreendedorismo - observamos que há um longo caminho a ser trilhado no Brasil. É que a prática da educação empreendedora em nosso país, apesar de integrada à Base Nacional Comum Curricular em 2020, ainda enfrenta sérios obstáculos à sua implementação. Pesquisa realizada em 2022 pelo Sebrae, em parceria com a Fundação Roberto Marinho, ao ouvir professores de todo o país, detectou que 56% dos entrevistados ainda não tentaram aplicar metodologias para o desenvolvimento de habilidades empreendedoras em sala de aula. Entre as principais barreiras são apontadas a falta de tempo para inclusão deste tema no conteúdo obrigatório e a falta de interdisciplinaridade.
Políticas públicas são materializadas a partir de normativos que a instrumentalizam, mas simplesmente a letra da lei não é suficiente para lhes dar concretude e efetividade. Ao inserir o ensino do empreendedorismo na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), para o ensino infantil e fundamental desde 2019 e para o ensino médio desde 2022, o Brasil deu um passo importante, mas não suficiente. Na legislação, estão estipulados os conteúdos e as habilidades que devem ser desenvolvidas pelas escolas, porém é necessário que os profissionais da educação tenham a formação necessária e os recursos necessários para isso.
A referida pesquisa apontou que muitos professores ainda parecem distantes de um conhecimento mais profundo sobre as competências gerais da BNCC ou sobre a temática das competências socioemocionais. Ao todo, 59% dos entrevistados afirmam já ter recebido alguma formação sobre as dez competências gerais, mas 52% ainda não se sentem familiarizados com o tema. Além disso, até que ponto o modelo escolar ainda predominante no Brasil, desde a estrutura das salas de aulas e outros espaços para o desenvolvimento de atividades, até os processos avaliativos, representa a ambiência adequada para estimular habilidades empreendedoras?
Observando o conjunto dos municípios brasileiros, estamos falando de uma realidade em que o básico ainda não foi feito, onde há a escassez de recursos para o aprendizado adequado, onde a escola ainda não recebe o olhar de prioridade. Entretanto, diversas iniciativas para impactar o ambiente escolar e fazer com que o empreendedorismo perpasse os diversos conteúdos e atividades formativas podem servir como referência e apontar caminhos, como é o caso de programas liderados pelo Sebrae em todo país, com a vertente de promoção e fomento ao empreendedorismo nas escolas.
Todo processo eleitoral é, em sentido amplo, uma oportunidade para pautar o poder público sobre as prioridades de uma sociedade. Que o empreendedorismo nas escolas seja uma dessas temáticas impulsionadoras, incentivando para que novas perspectivas e visões sejam o norte dos mandatos que se iniciarão em 2025. Sonhar faz parte.
Priscila Lapa, jornalista e doutora em Ciência Política