O sistema começou a colapsar quando a conta começou a não fechar pelo custo do combustível, os salários dos operadores tiveram aumento real e as exigências do governo por serviços de melhor qualidade sem a correspondente contrapartida do estado que se contentava em compra a passagem de seus servidores, isentar as empresas do ICMS do óleo diesel e considerar contrapartidas os investimentos em modernização do terminais.
A coisa estava a caminho do caos quando a pandemia da Covid 19 chegou e se encarregou de inviabilizar o negócio. Sem passageiros, o sistema pede arreglo ao governo para pagar parte dos custos da crise. Mas o que nem o governo e nem os operadores responderam foi o fato de que o freguês simplesmente foi cuidar de chegar mais rápido quando a vida voltou ao normal.
Chegou o aplicativo
Primeiro eles compraram motos e bicicletas e usaram o dinheiro da passagem paga pela empresa para o combustível e comprar comida. Depois passaram a usar os aplicativos de carros combinados horários e rotas que dividida por quatro faziam com que eles chegassem mais rápido em casa ou no trabalho e sem o aperto do ônibus. Finalmente, chegaram as motos-táxi que completaram a fuga do freguês do ônibus enquanto os gestores catatônicos não sabiam como reagir ao novo quadro.
O governo fez cara de paisagem entregando os operadores e os passageiros a própria sorte fingindo que esse era apenas um problema da classe patronal com a classe laboral, para usar duas palavras velhas que mostram a situação do sistema que em Pernambuco atingiu o estado da arte na vanguarda do atraso.
Sem subsídios
Claro que em cidades menores e metrópoles o poder público percebeu as ameaças. Em algumas o subsídio entrou no orçamento da prefeitura e do Governo do estado como está nas despesas de saúde, educação e segurança. Noutros essa conta ficou mais barata onde a prefeitura simplesmente contrata o serviço o da passagem para todos os usuários.
Mas Pernambuco se transformou em um caso espetacular de inação do governo estadual e municipal. Começa pelo Consórcio Grande Recife que nunca pode ser chamado de metropolitano por apenas a capital aderiu sem colocar nenhum órgão real.
Não é comigo
Os outros prefeitos nunca entraram no assunto preferindo cuidar de seus sistemas próprios inter-bairros. E nenhum deles viu a ameaça das motos táxi fazendo cara de paisagem diante de uma ação que as plataformas obtiveram na justiça.
Esse quadro de inação tem outro complicador. Uma parte dos operadores tem um contrato de serviços. Outra parte está literalmente pendurada no pincel de uma concessionária. Há uma década o governo do estado não enfrenta a questão e fecha as licitações porque isso quer dizer obrigações de manter o equilíbrio do contrato. Esse comportamento ficou claro na edição da greve que aconteceu na RMR.
Não sou parte
Nenhum dos prefeitos se manifestou sobre o problema. O governo do estado continua sem se pronunciar depois que em nota disse entender que se trata de uma questão trabalhista. Mesmo que seja contratante de ao menos dois consórcios e concessionários dos demais operadores. O nome disse é omissão por inação.
Quando o governo não toma conta do que é importante para a população, acaba criando oportunidades para que espertalhões se aproveitam da situação e travem o sistema. Como já fizeram nesta segunda e terça-feira em vários pontos da cidade. E isso diante de policiais que se mantiveram impassíveis fazendo a vigilância do normal.
Em algum momento a greve terá que acabar. Haverá um dissídio e a operação vai continuar incluindo. Até que um dia o Consórcio Grande Recife fechou as portas já que perdeu o sentido de existir e de representar o poder público. E o passageiro vai cuidar de sua vida andando de moto e engrossando as estatísticas dos grandes hospitais de trauma.