O Nordeste brasileiro é considerado uma das maiores reservas turísticas do mundo porque associa a sua densa e extensa cultura às belezas naturais. Neste artigo, sem que o sapateiro vá além do sapato, comento a importância da gastronomia à cobiça dos turistas.
A ideia seria a difusão do trinômio (sol/mar/gastronomia) para que o produto Sabor Nordeste agregue valor para se constituir num atrativo a essa instigante oferta turística. Remonta a 1997 o conceito, inserido pela Unesco, de patrimônio intangível, assim definido como o elenco de formas de cultura, seja a tradicional, seja a popular ou folclórica, isto é, as produções coletivas que provêm de uma cultura e se embasam na tradição. Por isso Pla, um renomado especialista espanhol e conhecido apenas pelo primeiro nome, afirmou: “a cozinha de um país é uma paisagem posta na caçarola”. A ânsia de conhecer a culinária, as suas origens e a maneira de compreender a cultura de um lugar por meio de sua gastronomia, tem crescente relevância. Assim, a cozinha tradicional está consagrada como um patrimônio intangível das nações.
Vale destacar que, durante o congresso da Unesco, realizado em Havana, Cuba, tendo como tema o Turismo Cultural na América Latina e no Caribe, aprovou-se uma carta documento que reconhece as receitas culinárias como um bem cultural tão relevante e valioso quanto os casarões e casarios, a arquitetura, as igrejas, os monumentos etc.
Nesta moção se põe em relevo que toda política cultural, se bem fundamentada, deve consagrar o gesto de comer não somente como uma tradição, mas também como uma ação de criatividade, não sendo somente um ritual biológico de apenas alimentação.
No Brasil, avulta a cozinha indígena dos nossos primeiros habitantes, que, associada à do colonizador branco e do escravo negro, este de origem africana, ensejando, essa combinação, a cozinha brasileira.
No estrangeiro, por exemplo, o que mais caracteriza o Brasil é a feijoada, tida até como símbolo nacional. No âmbito de nosso país, porém, é possível pinçar regiões pelo ritual como preparam e servem vários dos seus alimentos. Como exemplo, esplende o Nordeste onde, mediante comentários de Roberto Sperling, as alternativas gastronômicas ofertadas pelas cidades são ricas e diversificadas. A nossa culinária é também proveniente da saga nordestina e da resistência heroica às secas, estas um paradoxo à fartura do litoral com mais de 3 mil quilômetros de extensão, com águas mornas e sempre um deleite aos que nos visitam, neste paraíso tropical, movido pelo binômico sol e mar, mas sem descurar de nossos valores culturais, dentre os quais se encontra a gastronomia..
O nordestino, sobretudo o sertanejo, guarda, em sim, esse “saber de salvação”, como se referia Ortega y Gasset ao sintetizar o que vem a ser o significado de cultura. Daí, também, o saber camoniano, o da “experiência feita”, em assimilar e desenvolver a cultura do armazenamento de provisões e a forma de preparar alimentos capazes de se conservar sem maiores apetrechos. Assim, a carne de sol, cujo sal é utilizado na sua preservação. Todavia, o peixe é uma das marcas de maior relevo da gastronomia nordestina. Registre-se que temos mais de 2 mil espécies em nossa Região.
No Nordeste, ganham forte presença as frutas e os seus sucos, os pratos decorrentes de tapiocas, de farinha, estas e outras têm aguçada influência na autoestima e na identidade do povo nordestino.
A alimentação é um ato solidário. Os seres humanos têm o prazer do pão dividido, da alimentação entre grupos, mostrando ser um ritual coletivo, além de especial satisfação, fazer as refeições conjuntamente. Devagarinho, porque a “pressa é inimiga da refeição”.
Roberto Pereira, ex-Secretário de Educação e Cultura de Pernambuco, Secretário de Turismo e Desenvolvimento Cultural de Goiana e membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo.