Nos últimos dias, as articulações feitas ao redor do nome de João Campos (PSB), que será candidato à reeleição mas já não esconde o interesse de ser candidato ao governo em 2026, chamam atenção.
Não é estranho que se façam acordos em uma eleição já pensando na próxima. Mas antes havia um certo mistério, uma certeza meio disfarçada para não constranger o eleitor. O que parece é que ninguém no grupo mais próximo do prefeito está preocupado com o efeito que essas construções podem ter no eleitor.
Ninguém parece preocupado que o eleitor recifense irá às urnas já sabendo que está votando no vice para ser prefeito e não no cabeça da chapa. Ele vai votar em João para um mandato que começa em 2025, já sabendo que ele sairá em 2026 para ser candidato a governador.
E esse é apenas um dos aspectos que devem ser bastante explorados pela oposição. Não sem razão.
Está tudo tranquilo em se fazer uma eleição da capital do estado e chamar o cidadão às urnas pedindo voto para alguém que, já se sabe, ficará menos de dois anos na cadeira porque “tem coisa melhor pra fazer depois”?
Ninguém está aqui criticando a “pré-candidatura” de Campos ao governo. Só parece meio cedo para jogar isso na cara do recifense, quando nem começou o período eleitoral da eleição anterior.
Alguém pode dizer que ele nunca afirmou oficialmente que seria candidato em 2026. É verdade. Mas também nunca negou. Ele fará isso na campanha? Irá se comprometer com os quatro anos de mandato que estará pleiteando e negar que pretende disputar o governo?
Todas essas questões serão importantes para os argumentos da campanha do prefeito e também da de seus adversários. E se João vai se comprometer a passar quatro anos como prefeito, sem entregar a cidade ao vice, como vão ficar todos os acordos que ele está fazendo já agora com integrantes de outras siglas?
Porque, mesmo quando o assunto não é colocado sobre a mesa, há aliados que estão por perto pensando numa das vagas para disputar o Senado em 2026, na chapa do PSB.
E, podem apostar, há mais pretendentes do que vagas nessa história. Em algum momento terá que ser discutido.
Outra questão que precisa ser avaliada por todos que estão antecipando acordos em eleições sem combinar com os eleitores é que alguns também não estão combinando com Brasília. O presidente Lula tem dito a alguns petistas pernambucanos que não ficará contra Raquel Lyra (PSDB) e nem contra João Campos em 2026. Quer um palanque duplo para seu próprio projeto de reeleição.
No futuro, isso pode complicar alguns dos acordos que estão sendo feitos, principalmente os que envolvem Campos e partidos de centro e centro-direita, como o União Brasil, Republicanos e o MDB.
Lula não tem problema com esses partidos, mas eles podem ter problemas com Lula, porque há uma movimentação das siglas do centrão que querem lançar candidato à presidência em 2026, mesmo tendo ministérios na atual gestão.
E se esses partidos proibirem alianças locais com partidos de esquerda?
O perigo de antecipar eleição é que você não apenas se expõe aos adversários como se compromete com aliados sem saber o que realmente poderá entregar a eles. Nesse ramo, pior do que não fazer acordos é ter que desfazê-los depois.
Por isso Eduardo Campos repetia tanto uma frase sobre tratar a eleição de um determinado ano somente quando o ano chegava.
O outro perigo é em relação à cidade. A discussão sobre o Recife e seus imensos problemas não resolvidos vão perdendo importância na lista de prioridades de uma eleição que parece servir apenas de ponte, de plataforma para outra eleição.
Os candidatos vão discutir pautas estaduais, nacionais, ideologia, cabelo nevado e até o sexo dos anjos.
Corremos o risco de eles esquecerem o Recife no processo.