No país cada vez mais polarizado, até projeto de extinção de imposto criado no tempo do Império acaba se inviabilizando quando celebridades brigam nas redes sociais misturando leitura apressada com posições ideológicas igualmente absurdas e sem qualquer consistência teórica.
Isso aconteceu com um projeto que, certamente, tem apoio de toda a sociedade relacionada à extinção do imposto sobre terrenos de marinha. Ele foi criado no ano 1931 depois que D. Pedro I morreu em Portugal, quando, no Brasil, o príncipe regente D. Pedi II decidiu arrecadar mais cobrando um tributo com bases no movimento das marés.
Mas a proposta foi invalidada na noite desta segunda feira (2) quando o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco decidiu colocar no freezer o projeto da PEC 3/2022 depois de um debate absurdo entre o jogador Neymar Junior e a atriz Luana Piovani relacionando o projeto a um empreendimento imobiliário entre Pernambuco e Alagoas do qual o jogador é sócio e promoter.
Foi assim. Em 2011, o deputado José Chaves(PTB-PE), empresário oriundo do setor da construção civil que se juntou aos Jordy (PPS-PA) e Zoinho (PR-RJ) propuseram o fim do imposto sobre terrenos de marinha que tem uma regra baseada na linha da preamar médio de 1831.
Essa linha serve de ponto de partida para a demarcação dos terrenos marinhos e é definida pela área inundada pela maré alta.
O projeto ficou dormindo e nunca foi analisado até que em 2011 virou uma PEC 39/2011 que evoluiu para a PEC 02/2022 que não apenas incorporou a proposta como incluiu uma série de artigos em que a União não apenas repassa os terrenos a estados, municípios e a terceiros como prevê indenização pelas benfeitorias e permite o seu uso e ocupação.
Aí começaram os problemas. A Câmara Federal aprovou um substitutivo aprovado em dois turnos em fevereiro de 2022 do deputado Alceu Moreira (PMDB-RS), que determinou que União ficará apenas com as áreas não ocupadas, aquelas abrangidas por unidades ambientais federais e as utilizadas pelo serviço público federal, inclusive para uso de concessionárias e permissionárias, como para instalações portuárias, conservação do patrimônio histórico e cultural, entre outras.
Tudo ia bem até que a PEC 39/2022 virou a PEC 3/2022 e teve como relator o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) que atendeu ao pedido de uma uma audiência pública já que enfrenta resistência da base governista.
E começou a confusão. A PEC começou a ser chamada de “PEC das privatização das praias”. Não adiantou muito o relator Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o senador Esperidião Amin (PP-SC) que criticaram o entendimento de que a PEC poderia privatizar as praias e permitir seu cercamento. Na audiência pública, ficou a imagem de que o texto prejudicava o acesso de imóveis adjacentes às praias.
Foi aí que o jogador Neymar Júnior entrou no debate como Pilatos entrou no Credo.
Nas suas redes sociais, ele postou: "Estou junto com a Doer na criação da 'rota Due caribe brasileiro'. Vamos transformar o litoral nordestino e trazer muito desenvolvimento social e econômico para a região. Em breve, mais novidades", anunciou Neymar em suas redes sociais.
O projeto da DUE prevê 28 empreendimentos imobiliários nas praias de Porto de Galinhas e Carneiros, em Pernambuco, e de Maragogi, Antunes e Japaratinga, em Alagoas.
O valor geral de venda (VGV) estimado desses empreendimentos é de aproximadamente R$7,5 bilhões. Neymar é um dos empreendedores e sua função era usar sua força com milhões de seguidores para catapultar as vendas.
Só que o jogador não contava com uma crítica da atriz Luana Piovani, que compartilhou outro post da comunicadora socioambiental Laila Zaidem em sua conta no Instagram com um desabafo: "Meu sonho é que meus filhos esqueçam Neymar. Imagina se isso é ídolo?", escreveu Piovani.
Neymar comprou a briga.
“Acho que abriram as portas do hospício e soltaram uma louca que não solta o meu nome da boca... Quem trabalha no hospício em que ela tava, por favor vai atrás dela porque está complicado. Acho que ela está querendo alguma coisa comigo, não é possível. Não tira meu nome da boca, incrível"" disse o jogador.