No final da década de 90, o empresário Pedro Ernesto foi à China a convite da Sony comprar notebooks para a rede Varejo Info que sua empresa Infobox fazia parte no Recife. No estande da exposição do Canton Fair em Guangzhou ele percebeu que os preços dos produtos expostos tinham valores acima do que habitualmente vinha comprando de representantes da marca no Brasil. Um chines que o observava o interrompeu falando em português: Você está no estande errado. O de América Latina e Caribe [e do outro lado.
Ernesto soube que na China é comum um produto ser fabricado de quatro formas diferentes e com matérias diferentes dividindo o mundo em Estados Unidos, Comunidade Europeia, Ásia e Oriente Médio, América Latina e Caribe e África. E que o interlocutor chinês era o gestor de uma plataforma que Pequim mandou para o Paraguai vender quinquilharias para o Brasil sem pagar impostos. O empresário pernambucano estava diante do pai do pai dos chinglings.
Experiência
O exemplo da Sony serve para mostrar a obtusidade do governo Lula e de vários analistas quando questionam a cobrança de Imposto de Importação com o argumento de que o Brasil não tem competitividade e que a cobrança prejudica as pessoas de baixa renda, resultado do chamado Custo Brasil.
Não é só competitividade nem o Custo Brasil. Ao menos na questão das roupas, o Brasil é responsável por 90% da produção consumida no Brasil e no têxtil exporta produtos de algodão para mais de 70 países. Sua indústria tem quase 200 anos. Até porque caminha para ser o maior exportador de algodão do mundo derrubando os cotonicultores americanos.
Assimetria tributária
A questão é de assimetria tributária onde as plataformas não pagavam nada e os produtores do Brasil pagam todos os impostos especialmente os trabalhistas. O que não se pode dizer o mesmo da China onde há milhares de denúncias de instituições internacionais revelando trabalho precário especialmente em plantas que exigem muita mão de obra. Além de não se saber nada sobre a qualidade que matérias primas são usadas.
O debate sobre a cobrança começou errado no governo Lula quando, após a Receita Federal observaar na cobrança de impostos que as plataformas estavam enganando o Fisco mentindo ao fazer milhões de chineses mandarem produtos para milhões de clientes brasileiros. Como se fosse uma transação entre pessoas físicas e optou por construir uma plataforma que apenas cadastrar os pacotinhos em lugar de passar a cobrar o imposto.
Roupa e cosméticos
Também em relação ao setor de cosméticos não é verdade a questão da competitividade, às “bugigangas” segundo a interpretação rasa do presidente Lula. O Brasil tem exatas 208.531 empresas de cosméticos registradas legalmente no Receita Federal que empregam mais de três milhões de pessoas
Elas vão da multinacional O Boticário, passando por pernambucanas como a Rishon e milhares de microempresas legais que competem com empresas chinesa que entre outros produtos usam químicos proibidos do Brasil e que, não raro, mandam para clientes comuns álcool sintético a 92 graus sem que a Anvisa saiba do que trata.
Defasagem tech
A defasagem tecnologia existe é claro e não se nega isso. A China em 40 anos virou a provedora de matérias primas e equipamentos do mundo depois que os Estados Unidos decidiram transferir para aquele país a manufatura de sua indústria aproveitando-se de mão de obra barata e inexistência de direitos trabalhistas.
Os chineses, como se sabe, aprenderam e investiram pesado nas suas universidades de ciências exatas e hoje formam 300 mil engenheiros/ano além de liderar o registro de patentes no mundo.
Pagando salário
Mas a questão não é comparar a competitividade como justificativa de preço. Não é competitividade. Uma coisa é uma empresa no Brasil pagar o Imposto de Importação de matérias primas, registrar seus empregados e pagar os direitos trabalhistas e os impostos no Brasil. O outra é importar produtos da China com isenção total sem qualquer controle de conformidade no Brasil.
Então a questão, como diz a Confederação Nacional da Indústria (CNI) é de assimetria tributária e da posição tolerante do Governo brasileiro com o malfeito com a desculpa de que o consumidor de baixa vai pagar mais.