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Antes e depois de Gaza

As cenas chocantes de sofrimento de indivíduos encurralados não são as primeiras, nem devem ser as últimas na trilha da autodestruição humana

Publicada em 04/03/2024 às 08:59h - 44 visualizações

por JC


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Falta de consciência no combate à dengue - Thiago Lucas  (Foto: )

Antes do fim do mundo que se anuncia em trombetas virtuais e nos púlpitos da intolerância, teremos visto repetidas vezes a decadência da humanidade. O abandono de todo humanismo possível, na falta de piedade que se ostenta orgulhosamente, contra inimigos indefesos vítimas de insaciável crueldade. Como nos ataques terroristas que se deflagram há décadas contra inocentes que morrem sem saber por que, e na contraofensiva ao terror, geralmente em larga escala, impulsionando a indústria de armamentos e a realimentando a política do ódio por todos os lados.
Desde a chaga do Holocausto, para ficar num dos marcos mais recentes da nossa história, gerações traumatizadas crescem no sofrimento e não o superam, incorrendo nos mesmos erros, ou cometendo erros maiores, que reproduzem a dor sofrida e multiplicam o trauma, espalhando a tragédia ao invés de evitá-la. O que será das crianças da Ucrânia, expulsas de seu país pela invasão russa, ou há dois anos convivendo com bombas e o derrame de sangue? O que resta de esperança na África, consumida pela avidez de estrangeiros e pelas disputas entre seus povos, no maior palco da fome no mundo? Ou que futuro indicar aos refugiados de tantas pátrias, que fogem da violência e da miséria, em desesperada tentativa de salvação, encontrando fronteiras fechadas, milhares se afogando na desilusão da travessia marítima?
A capacidade humana de se autodestruir parece não ter limites – e se manifesta não só contra outros seres humanos, mas na devastação do habitat para qualquer espécie no planeta, em rumo predatório sem freios. O bloqueio à ajuda humanitária na Faixa de Gaza rendeu imagens chocantes nos últimos dias, em um conflito antigo que não se pauta mais pela possibilidade de trégua. A execução de palestinos correndo para sair da linha de fogo foi seguida do lançamento de mantimentos, de paraquedas, da parte dos Estados Unidos – principal financiador do Exército de Israel. Pacotes caíram no mar, fazendo com que os necessitados, refugiados em sua própria terra, se lançassem à água em busca do tesouro para a sobrevivência. A situação é tão absurda que a crise humanitária eleva a monstruosidade do Hamas, o grupo terrorista responsável pelo ataque bárbaro aos israelenses. Mas o governo de Benjamin Netanyahu enfrenta cada vez mais a pressão interna e externa, para parar com a ofensiva em Gaza sob a justificativa da caça aos terroristas.
De acordo com as estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), a ampla maioria os 2,4 milhões de habitantes acuados em Gaza estão passando fome, sem ter onde morar e dormir, sem acesso à água e energia, com serviços de saúde em colapso. Para o governo Netanyahu, os palestinos pagam o preço dos crimes do Hamas, que mataram e sequestraram israelenses no maior ataque organizado da história. O que vemos naquele pedaço do mundo não difere do que a humanidade já se fez, antes. Mas o que esperar dos sobreviventes de Gaza, depois do que estão passando?

 




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