Nesta quinta-feira (01), durante o início das atividades da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), ocorreu mais um capítulo no conflito entre o governo Raquel Lyra (PSDB) e o Legislativo comandado por Álvaro Porto (PSDB).
Durante a transmissão ao vivo da cerimônia que abre as atividades legislativas de Pernambuco, foi vazado o áudio de Álvaro Porto enquanto conversava em privado com outra pessoa.
Enquanto outro interlocutor afirma que o discurso de Dani Portela (PSOL), líder da oposição, e da governadora deram uma hora de duração, Álvaro ainda afirma que não entendeu nada que foi relatado por Raquel Lyra e que a gestora "conversou merda demais e não disse nada".
Apesar da fala polêmica ter envolvido o uso da palavra de baixo calão, o áudio vazado continua com Álvaro e o interlocutor a ironizar que gostariam de perguntar de qual estado Raquel se referia ao apontar suas ações em 2023 e planos para 2024, já que não parecia ser Pernambuco.
Com o vazamento do áudio em transmissão ao vivo, a situação gerou revolta entre aliados da governadora Raquel Lyra, que também comentou sobre o assunto.
Em entrevista para TV Globo ainda na quinta-feira (01), a governadora Raquel Lyra comentou sobre a declaração de Álvaro Porto. A posição da política é de que a fala foi "um exemplo da violência política que a gente [as mulheres] sofre todos os dias".
Raquel apontou o caso como a representação das vivências de mulheres em espaços de poder ao indicar que figuras femininas na política precisam ser "julgadas não pelo seu gênero, mas pelas suas condutas e atuações".
A governadora também publicou sobre o tema em suas redes sociais, veja abaixo:
As mensagens de apoio à Raquel Lyra se dividiram entre aqueles que apontaram uma "agressão verbal", sem citar a questão de gênero apontada pela governadora, e os grupos que interpretaram a fala de Álvaro Porto como machista e representativa da visão de mulheres na política.
No caso do Partido Progressista de Pernambuco, a sigla identificou o caso como uma "agressão verbal" e e apontar que a situação representava "ataques que atingem não apenas a pessoa de Raquel Lyra, mas, também, o próprio cargo de chefe do Executivo estadual.
As declarações do Cidadania, partido da vice-governadora Priscila Krause, e da deputada Socorro Pimentel (União Brasil) citaram o caso como um representativo de violência política vinculado ao gênero da governadora.
Além de exaltar Raquel Lyra, o texto do partido de Krause também afirmou que a atuação de ambas as gestoras para mudar o estado e a "cultura machista e de más práticas políticas" é o motivo da "reação descabida do parlamentar".
Após a repercussão do caso, o deputado Álvaro Porto se pronunciou e pediu desculpas pelo uso de uma palavra de baixo calão que afirma não ser "condizente com o contexto e local".
Mesmo que tenha dado satisfação sobre o áudio vazado, Álvaro Porto manteve o posicionamento apresentado na conversa em privado ao declarar que "o teor do discurso [é] desconectado com a realidade vivida em Pernambuco" e que as falas no momento foram "fruto de indignação em relação à falta de resultados do governo em questões sérias, como saúde e segurança, por exemplo".
Álvaro ainda apontou que tem "o direito e dever de avaliar e criticar discursos que não correspondam à realidade observada" e que não criticou a pessoa da governadora, mas sim sua fala na Assembleia Legislativa.
Álvaro Porto já anunciou para Rádio Jornal em 2023 que planeja sair do PSDB por conta das desavenças com a governadora. Como continua na sigla, o Conselho Nacional de Ética e Disciplina do PSDB relatou que avaliará possíveis medidas disciplinares contra o deputado e que está à disposição de Raquel, caso ela deseje tomar medidas judiciais.
Enquanto Raquel e aliados atribuíram o caso à violência política e ao machismo contra mulheres na política, alguns membros da política pernambucana que ficaram ao lado de Álvaro Porto, como o vereador do Recife Victor André Gomes (União Brasil), viram a fala como apenas uma crítica à gestão.
A declaração de Victor André Gomes apontou que o áudio vazado do presidente da Alepe foi apenas uma fala "em momento privado [que] expressou o descaso do governo do estado e a insatisfação do povo pernambucano".
O vereador também afirmou que o caso "está servindo de alimento aos oportunistas de plantão", uma referência indireta aos apontamentos feitos pela base da governadora de que as críticas de Álvaro Porto representam violência política e machismo.