A inflação da Argentina fechou dezembro em 25,5%, segundo dados do Instituto de Estatística e Censos do país (Indec), divulgados ontem. Com isso, 2023 termina com um índice de 211,4%, a maior taxa anual desde a hiperinflação registrada em 1990. Os números superaram os da Venezuela e fizeram a Argentina ter a maior inflação da América Latina.
A disparada é consequência de anos de descontrole fiscal, mas também foi impulsionada por uma série de medidas decretadas pelo governo do presidente, Javier Milei, que tomou posse no mês passado. Em dezembro, o ministro da Economia, Luis Caputo, anunciou um pacote com nove medidas para tentar conter a crise. O "Plano Motosserra", como foi chamado pela imprensa, reduzia subsídios, cortava gastos e preparava terreno para a privatização em massa de empresas estatais.
Milei também anunciou em dezembro um Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), para reformar ou revogar mais de 350 normas, entre elas a desregulamentação do serviço de internet via satélite e a flexibilização do mercado de trabalho. O DNU está sendo analisado pelo Congresso, que deve votá-lo em breve.
Ontem, Milei voltou a prometer fechar o Banco Central da Argentina. Os comentários foram feitos em entrevista à rádio La Red AM, quando questionado se ainda pretendia dolarizar a economia. "Mais cedo ou mais tarde vamos fechar o Banco Central", disse.
Milei previu que a inflação de dezembro ficaria abaixo dos 30%, o que seria "um sucesso retumbante" de sua equipe econômica, já que as expectativas eram de 45% - os dados foram divulgados ontem após a entrevista do presidente argentino.
Na conversa, Milei também elogiou o acordo fechado com o FMI, na quarta-feira, que concede US$ 4,7 bilhões à Argentina. "Foi a negociação mais rápida da história", afirmou.
Após vencer a eleição, Milei vinha dando sinais de ter abandonado algumas promessas. A decisão de afastar alguns assessores radicais e nomear aliados do ex-presidente Mauricio Macri foi vista como um sinal de moderação.
Na entrevista de ontem, porém, o presidente não deu detalhes sobre como fecharia o BC. Atualmente, poucos países operam sem um banco central. A lista inclui Panamá, Kiribati, Tuvalu, Andorra, Mônaco, Nauru e Palau. A maioria tem populações pequenas e alguns são paraísos fiscais.