Milicianos islamistas libertaram, nesta terça-feira (28), dez mulheres israelenses e dois estrangeiros que eram mantidos como reféns em Gaza em troca de 30 prisioneiros palestinos, na quinta troca possibilitada por uma extensão de 48 horas da trégua entre Israel e o Hamas.
Combatentes encapuzados do Hamas, no poder na Faixa de Gaza, e da Jihad Islâmica entregaram os reféns ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) em Rafah, perto da fronteira desse território palestino com o Egito, relatou um fotógrafo da AFP.
O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, informou que as dez israelenses e as duas pessoas de nacionalidade tailandesa, que fazem parte do grupo de cerca de 240 sequestrados desde 7 de outubro, foram libertadas, e o Exército afirmou que todos já estavam "dentro do território israelense".
Os serviços penitenciários de Israel afirmaram logo depois que 30 prisioneiros palestinos, todos mulheres ou menores de 19 anos, foram libertados conforme o acordo alcançado na semana passada com a mediação do Catar, Estados Unidos e Egito.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar, Majed Al Ansari, disse que as israelenses libertadas eram nove mulheres e uma menina. Entre elas estão duas argentinas e uma filipina, todas com dupla cidadania.
A trégua de quatro dias entre Israel e o Hamas deveria terminar nesta terça-feira, mas foi prorrogada até quinta-feira para permitir a libertação de 20 reféns israelenses e mais 60 prisioneiros palestinos.
Vigente desde a madrugada de sexta-feira, o acordo já permitiu a libertação de 60 reféns nas mãos do Hamas na Faixa de Gaza e de 180 palestinos detidos em Israel.
Outros 21 reféns, em sua maioria trabalhadores tailandeses em Israel, foram libertados pelo Hamas à parte deste acordo.
Israel iniciou a ofensiva contra a Faixa de Gaza após o ataque do Hamas em 7 de outubro, quando 1.200 pessoas foram assassinadas por combatentes islamistas e outras 240 foram sequestradas, segundo as autoridades israelenses. Entre os mortos estão mais de 300 militares ou integrantes das forças de segurança.
Em Gaza, alvo de bombardeios incessantes e de uma ofensiva terrestre desde 27 de outubro, a operação israelense deixou 14.854 mortos, incluindo 6.150 menores de idade, segundo o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas.
Apesar da pressão da sociedade civil para conseguir o retorno de mais reféns, tanto o Exército como o governo de Israel reiteraram nos últimos dias que pretendem retomar os combates para "eliminar" o Hamas.
"Vamos libertar todos os reféns", declarou Netanyahu nesta terça. "Destruiremos essa organização terrorista (Hamas) e nos asseguraremos de que Gaza deixe de ser uma ameaça para o Estado de Israel", acrescentou.
Em Tel Aviv, manifestantes pediram a libertação de um bebê de 10 meses, Kfir, capturado no kibutz Nir Oz em 7 de outubro junto ao irmão Ariel, de 4 anos, e seus pais.
Apesar da pausa nos combates, um jornalista da AFP na Cidade de Gaza viu o Exército israelense efetuar três disparos contra dezenas de civis que tentavam entrar no bairro de Sheikh Radwa. O repórter constatou um ferido.
O Exército afirmou que "vários suspeitos se aproximaram das tropas israelenses" e que um tanque deu "tiros de advertência". Os movimentos palestinos denunciaram "violações da trégua" por parte de Israel.
Por sua vez, os militares israelenses denunciaram a detonação de três artefatos explosivos perto de suas forças no norte da Faixa de Gaza, "violando o marco da pausa operacional", e que "terroristas" dispararam contra seus soldados, que responderam.
Em Beitunia, na Cisjordânia ocupada, a recepção aos presos libertados terminou em confrontos com as forças de segurança de Israel. Um jovem palestino morreu ao ser atingido "por disparos", informou o Ministério da Saúde palestino.
A mesma fonte reportou a morte de outros dois palestinos por soldados israelenses na Cisjordânia.
Os mediadores trabalham para estender a trégua para além das 48 horas adicionais. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, viajará no fim de semana para Israel e a Cisjordânia ocupada para reuniões com Netanyahu e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas.
Os chefes dos serviços de Inteligência americano e israelense estão em Doha, capital do Catar, para discutir a "fase seguinte" do acordo, segundo uma fonte a par dessas negociações.
A Faixa de Gaza também sofre um cerco total por parte de Israel que causou uma dramática falta de itens essenciais.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) saudou a chegada de várias centenas de caminhões carregados de ajuda desde 24 de novembro, graças à trégua, mas alertou que está longe de ser suficiente.
"É um bom começo. Certamente, o tipo certo de ajuda, combustível, medicamentos, alimentos", declarou nesta terça-feira seu porta-voz, James Elder, em um vídeo feito em Gaza, acrescentando que "a ajuda deve ser multiplicada".
A Organização Mundial de Saúde (OMS) observou um "enorme aumento" de algumas doenças contagiosas.
"Sofremos porque não temos comida, água, não nos trazem nenhuma ajuda", lamentou Fuad Hara, um palestino pai de cinco filhos, deslocado pelos combates e que se viu obrigado a fugir da Cidade de Gaza em direção ao sul do território.
Mais da metade das residências do território foi danificada ou destruída pela guerra, que provocou o deslocamento de 1,7 milhão dos 2,4 milhões de habitantes, segundo a ONU.
"Tento encontrar lembranças da minha casa", disse um palestino de Al Zahra, mostrando as montanhas de escombros onde antes ficava sua casa, destruída pelos bombardeios israelenses.