O balanço dos mortos no incêndio no Havaí, o mais letal ocorrido nos Estados Unidos em mais de um século, era de 99 nesta segunda-feira (14), e deve dobrar ou triplicar ao longo da semana, alertaram autoridades.
Equipes de emergência avançavam, com o auxílio de cães farejadores, em sua missão de busca. "Ninguém sabe a dimensão do desastre", reconheceu John Pelletier, comandante da Polícia de Maui.
Autoridades enfrentavam uma onda de críticas por sua condução da crise. As equipes de resgate "devem encontrar de 10 a 20 pessoas por dia até encerrarem seu trabalho", alertou o governador do Havaí, Josh Green, em entrevista exibida hoje pela rede de TV CBS.
Lahaina, cidade costeira da ilha de Maui, foi praticamente destruída pelas chamas que avançaram na madrugada de quarta-feira da semana passada. Os sobreviventes denunciam que não receberam nenhum alerta.
Questionada sobre a razão pela qual as sirenes da ilha não foram acionadas, a senadora pelo estado do Havaí, Mazie Hirono, respondeu no domingo que aguardaria os resultados da investigação anunciada pela procuradora-geral do estado, Anne Lopez.
"Não vou dar nenhuma desculpa para essa tragédia", disse a senadora democrata ao canal CNN. "Estamos concentrados na necessidade de resgate e, infelizmente, na localização de mais corpos", acrescentou a congressista.
O fogo atingiu ou destruiu mais de 2.200 estruturas em Lahaina. Oficialmente, o prejuízo é calculado em 5,5 bilhões de dólares (26,9 bilhões de reais), sem contar as milhares de pessoas que perderam suas casas.
Até o momento, apenas dois corpos foram identificados, explicou o comandante de polícia. Ele pediu aos parentes das pessoas desaparecidas que façam exames de DNA. "Vamos agir o mais rapidamente possível. Mas, para que vocês saibam, 3% é o que foi rastreado com os cães", acrescentou.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, informou ontem que pretende viajar em breve ao Havaí, onde vários pequenos focos de incêndio permanecem ativos.
Este foi o incêndio com o maior número de mortes nos Estados Unidos desde 1918, quando 453 pessoas faleceram em Minnesota e no Wisconsin, segundo a Associação Nacional de Proteção contra Incêndios, um grupo de pesquisas sem fins lucrativos.
O número de vítimas fatais supera o do incêndio 'Camp Fire', de 2018, na Califórnia, que praticamente apagou do mapa a pequena localidade de Paradise e matou 86 pessoas.
Muitas perguntas foram feitas nos últimos dias sobre o nível de preparação das autoridades do Havaí para a catástrofe, apesar da exposição da ilha a perigos naturais como tsunamis, terremotos e tempestades violentas.
Em um plano de emergência divulgado no ano passado, o estado do Havaí descreveu o risco de incêndios florestais para os habitantes como "baixo".
Porém, os mecanismos de advertência para proteger os cidadãos em caso de desastre parecem não ter funcionado.
Maui sofreu vários cortes de energia elétrica durante a crise, o que impediu que muitos moradores recebessem alertas em seus telefones celulares.
Nenhuma sirene de emergência funcionou e muitos moradores de Lahaina disseram que souberam do incêndio quando viram os vizinhos correndo nas ruas ou quando observaram as chamas.
"A montanha atrás de nossa casa pegou fogo e ninguém nos avisou", lamentou Vilma Reed, 63, que teve sua casa destruída. Ela disse que fugiu sem levar nada, e que depende, agora, de doações. "Esta é a minha casa agora", disse a mulher, ao apontar para o carro em que dormiu com sua filha, neta e dois gatos.
A polícia de Maui anunciou que não permitiria a entrada em Lahaina antes do fim das avaliações de segurança e enquanto as buscas prosseguirem, mesmo para quem provar que vive naquela localidade.
Moradores aguardaram por horas no fim de semana para entrar em Lahaina e procurar por parentes ou animais de estimação perdidos, mas alertaram para multas e até prisão.
Questionada sobre a revolta dos moradores com a resposta do governo, Mazie Hirono disse que entende a frustração das pessoas, porque este é um "momento de choque e perda".
A empresa Hawaiian Electric é acusada de ter mantido "suas linhas de energia quando as previsões apontavam para um risco alto de incêndios" e ventos fortes, alimentados por um furacão que passava a sudoeste de Maui.