O número de cristãos evangélicos não determinados, segundo o último senso do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em 2010, era de 9,2 milhões, o que finalizava 21% dos evangélicos na época.
Os cristãos “indeterminados” são uma categoria de evangélicos que não romperam com as confissões dogmáticas do cristianismo, porém se desvincularam da forma institucional das igrejas. Na prática, os evangélicos indeterminados são pessoas que se consideram cristãs, mas não frequentam as instituições religiosas.
Conhecidos popularmente no seio do evangelicalismo brasileiro como 'desigrejados', esse grupo de fiéis não para de crescer.
Atualmente, segundo alguns estudiosos do fenômeno, esse grupo chega à marca de mais de 16 milhões de pessoas, o que os elegeria (se fossem uma denominação), como o segundo maior grupo confessional do país, ficando apenas atrás das Assembleias de Deus, de acordo com o teólogo teólogo Nelson Bomilcar.
Em linhas gerais, os desigrejados consideram que a igreja está desvirtuada em sua natureza, na essência, na proposta relacional comunitária e em sua oferta de missão e serviço.
Eles denunciam a distância entre o que se vê hoje na prática nos ambientes religiosos e o que poderia ser feito visando o melhor dos fundamentos colocados por Jesus e seus apóstolos.
Em entrevista a VEJA, o teólogo Nelson Bomilcar, autor da obra “Os sem igreja: buscando caminhos de esperança na experiência religiosa”, relatou os seguintes subgrupos integram o fenômeno, a saber:
a) Os assumidos sem-igreja: aqueles que se identificam como não pertencentes a nenhuma igreja e portanto não possuem vínculos, parcerias ou compromissos institucionais com comunidades e denominações;
b) Os desencantados com a igreja: pessoas que se decepcionaram com a instituição formal religiosa e permanecem a uma distância preventiva da experiência comunitária de ser igreja;
c) As pessoas inseridas como membros de uma igreja ou como líderes eclesiásticos que vivem relacionamentos superficiais e quase nulos na igreja;
d) fiéis recolhidos em pequenos grupos que se reúnem informalmente em casas, escritórios, salões alugados, parques ou escolas, e que não querem serem vistos ou reconhecidos como uma organização;
e) indivíduos que foram alvos de abuso espiritual por parte da liderança e que estão decepcionadas com as relações e a instituição;
f) os sem-igreja que acompanham mensagens e reflexões pela internet.
São muitos os fatores que refletem na subsistência do fenômeno dos desigrejados, porém se destacam os aspectos internos (eclesiásticos) e os aspectos externos (sociológicos).
Entre os fatores internos, se encontram a decepção com promessas feitas em nome de Deus e que nunca se cumpriram, desapontamentos relacionais, além das práticas e ensinos questionáveis ministrados em ambientes eclesiásticos e a repulsa com os maus exemplos e corrupções das lideranças (pastores, bispos e apóstolos).
Já os fatores externos podem ser compreendidos dentro do momento histórico em que vivemos – da chamada pós-modernidade ou modernidade radicalizada -, fortemente marcado por uma visão de mundo pragmática e utilitária e por uma pluralidade de escolhas religiosas, que permite ao indivíduo experimentar conteúdos religiosos diversos.
A tendência nos próximos anos é o número de evangélicos “não determinados” aumentar no mesmo ritmo do crescimento das igrejas evangélicas, que – segundo prospecções de estudiosos – em 2036 se tornarão hegemônicas no cenário religioso.
Rodolfo Capler é teólogo, escritor e pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo/PUC-SP.