Prestes a completar 1 ano à frente da Petrobras, o general da reserva Joaquim Silva e Luna foi demitido da cadeira a pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele permaneceu 343 dias no cargo, e acabou derrubado por motivos muito parecidos com seu antecessor.
O general substituiu o economista Roberto Castello Branco, que sofreu pressão do governo federal por conta da política de preços da estatal. Desde 2016, ainda na gestão de Pedro Parente, a empresa adotou a política de paridade internacional (PPI) para definir o preço da gasolina e diesel nas refinarias.
A PPI é orientada pelas flutuações do preço do barril de petróleo no mercado internacional e pelo câmbio. Com o dólar ainda em patamares elevados e o valor crescente das commodities desde o ano passado, essa tem sido a principal injeção de alta no preço dos combustíveis no Brasil.
Mesmo com reajustes mais esporádicos, Silva e Luna desagradou ao seguir a lógica de mercado para definição dos preços.
Diante da tensão crescente após o estouro do conflito entre Rússia e Ucrânia, a Petrobras ficou 57 dias sem reajustes enquanto estudava a escalada de preços de commodities no mundo. Mas a demora a obrigou a fazer um severo reajuste nos preços, com aumento de 18,8% no litro da gasolina e de 24,9% no litro do diesel para as refinarias.
Na bomba, a gasolina chegou a uma média de R$ 7,210, segundo levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Foi o bastante para que o presidente Bolsonaro voltasse a fazer uma série de críticas públicas à empresa, mirando tanto a PPI como o lucro recorde da empresa em 2021, de R$ 106 bilhões.
As ações da Petrobras caíram mais que 20% no pregão da segunda-feira seguinte, quando o mercado absorveu o impacto da mudança na presidência.
Já sob a batuta de Silva e Luna, a Petrobras renovou o desafio com o aumento do preço do petróleo no mercado internacional, puxado pela reabertura da economia após o avanço da vacinação contra a Covid.
Em sua cerimônia de posse, Silva e Luna deu ênfase à “previsibilidade” como marco da Petrobras sob sua gestão, sem se desvincular com a “paridade internacional” com os preços internacionais do petróleo.
"Sabemos que credibilidade não é fruto de uma percepção momentânea, é o somatório de uma longa coerência de atitudes. (...) Não há dúvidas de que os principais desafios, entre tantos outros, são fazer a Petrobras cada vez mais forte, trabalhando com visão de futuro, com segurança, respeito ao meio ambiente, aos acionistas e à sociedade em geral, de forma a garantir o maior retorno possível ao capital empregado e crescer sustentada em ativos de óleo e gás de classe mundial", disse Silva e Luna.
Os fatores que impactam a PPI continuaram em alta. No ano passado, o dólar acumulou nova alta de 7,47%. E o preço do barril de petróleo tipo Brent passou de uma média de US$ 44 em 2020 para os US$ 70 no ano seguinte.
Em 2022, houve boa entrada de dólares no país, que permanece abaixo dos R$ 5. Mas a disparada do preço do petróleo no mercado internacional por conta da Guerra na Ucrânia fez com que o real não consiga compensar as defasagens de preço dos combustíveis. Neste mês de março, o Brent chegou a um pico de US$ 140.
Nesse contexto, a Petrobras anunciou o último reajuste de preço nas refinarias no dia 10 de março. Bolsonaro já havia voltado à cena.
Dias antes do aumento, em entrevista à rádio Folha, de Roraima, em março, o presidente defendeu que toda alta do preço do barril de petróleo não seja repassada ao consumidor. As declarações fizeram as ações da estatal caírem 7% no pregão daquele dia, diante da ameaça de nova intervenção.
"Se você for repassar isso tudo para o preço dos combustíveis, você tem que dar um aumento em torno de 50% nos combustíveis, não é admissível você fazer. (...) A população não aguenta uma alta por esse percentual aqui no Brasil", disse.
"Leis feitas erradamente lá atrás atrelaram o preço do barril produzido aqui ao preço lá de fora, esse é o grande problema, nós vamos buscar uma solução para isso de forma bastante responsável", acrescentou.
Dias depois do ajuste da estatal, Bolsonaro voltou a criticar a empresa em conversa com jornalistas após participar de um evento de filiação de deputados ao seu partido, o PL.
"Olha só, eu tenho uma política de não interferir. Sabemos das obrigações legais da Petrobras e, para mim, particularmente falando, é um lucro absurdo que a Petrobras tem num momento atípico no mundo. Então, não é uma questão apenas interna nossa", disse.
O governo federal anunciou nesta segunda-feira (28) que substituirá o general da reserva Joaquim Silva e Luna na presidência da Petrobras. Para a vaga, o Ministério de Minas e Energia decidiu indicar Adriano Pires, fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
A mudança precisa ser confirmada pela assembleia-geral dos acionistas da estatal.
A próxima reunião está marcada para 13 de abril.
fonte: g1